A prática de Francisco Tropa é essencialmente orientada para a escultura, muitas vezes associada à imagem fotográfica ou cinematográfica. As referências à antiguidade, ciência e tecnologia e história da arte entrelaçam-se, resultando numa investigação multifacetada que visa dissecar o ato de criação. A exposição O Pulmão e o Coração procura dar forma aos princípios criativos que definem a vida e o funcionamento do mundo e dos seres vivos.
Uma certa estranheza emerge da obra de Francisco Tropa e da sua constante procura de um equilíbrio entre o pensamento conceptual e as competências tradicionais. Abrindo com o Sonho de Cipião e uma visão antiga do Cosmos, a exposição termina com outro sonho: o do narrador de Gradiva (1903), o famoso conto de Wilhelm Jensen passado na cidade de Pompéia durante a trágica erupção do Monte Vesúvio. O cenário é uma paisagem metafísica, onírica, que nos convida a viajar por mundos diferentes e identificar suas forças motrizes. A luz silenciosa e crepuscular e o ritmo dos mecanismos de interação evocam uma experiência sensorial. Situada no centro da exposição, a instalação O Pulmão e o Coração baseia-se num princípio de repetição e na consideração da extraordinária funcionalidade do corpo humano. Localizada no mesmo andar da coleção permanente, a exposição mantém um diálogo permanente com os grandes mestres da modernidade, que fizeram do fascínio pela máquina um dos princípios fundadores de sua prática.
Concebido como uma monografia condensada, O Pulmão e o Coração está estruturado em torno do movimento e dos tempos – preocupações recorrentes na obra do artista – e coloca em perspectiva a noção de ciclos, a mecânica dos corpos terrestres e celestes e a ideia do todo. A exposição é acompanhada por um livro de artista concebido como parte integrante do projeto e que inclui um guia para os visitantes.