Esculturas é uma exposição constituída por novas obras em aço de Zulmiro de Carvalho. As peças, estudadas para o espaço da galeria, foram desenvolvidas de modo a possibilitar a relação com diferentes espaços. O recurso a um sistema formal modular, característica usual no processo de trabalho do artista, permite ainda que as esculturas possam assumir distintas configurações.
Esculturas
texto de Óscar Faria
Os trabalhos de Zulmiro de Carvalho agora revelados surgem na continuidade de pesquisas que o artista tem vindo a realizar em torno de problemas relacionados com a escultura. São obras que traduzem a vontade de redução a uma essência, à ocupação de um espaço mínimo, o suficiente para nos aproximar de um silêncio primordial.
A gramática é minimalista, contudo a inclusão de dobras ou a visibilidade de marcas resultantes do processo de trabalho potenciam outras leituras, que tanto podem chegar do esplendor do barroco, como da filosofia zen.
As esculturas de Zulmiro de Carvalho são presenças: peças contidas em si mesmas, que se retiram do mundo para melhor dar a vê-lo. A sua afirmação é realizada através do corte que produzem no espaço envolvente, seja o cubo branco da galeria, seja a natureza, onde também podem ser instaladas.
Não têm posição fixa: sublinham a impermanência. E vivem na duração: agem sobre o tempo, que também as muda. Se colocadas no exterior, a ferrugem irá dar-lhe outras tonalidades; instaladas num interior, vão produzindo uma intimidade, um espaço de partilha e de contínuas variações. Envelhecem: ganham uma nova respiração.
Há uma gramática própria a estas esculturas. É possível lê-las enquanto vocábulos, com elas compor frases, um poema sóbrio, contido, que desse conta desse encontro da luz com as formas. Estas obras necessitam de atenção. A sua origem são dobras em envelopes. E ainda a regra de ouro. Vêem-se nelas corpos em repouso. Não há artifícios. Estes trabalhos procuram a serenidade.