A Galeria Quadrado Azul tem o prazer de anunciar "Leal, tentáculo a tentáculo" de Hugo Canoilas. A exposição apresenta um conjunto de trabalhos desenvolvidos pelo artista ao longo dos últimos dois anos e meio.
Todas as obras incluem a representação de um polvo enquanto motivo, encontro e ferramenta para a multiplicidade de possibilidades que a prática da pintura têxtil do artista acarreta. A exposição inclui uma série de trabalhos fundamentais para a criação de "Hold Your Breath", uma nova ópera (ver link) produzida em colaboração com David Pountney (libreto e direção de cena) e Éna Brennan (composição musical). O cefalópode apresenta-se como elemento principal do palco desta ópera, tornada possível através da colaboração entre a Kunsthaus Bregenz e a Bregenzer Festspielhaus.
O polvo, uma criatura raramente explorada na obra de Canoilas, aparece na forma de uma marioneta gigante no libreto de Pountney, contendo uma multiplicidade de relações através da sua morfologia tentacular, que tem sido utilizada para reflexões ecológicas, políticas e sociais, sobretudo nas suas inter-relações (cultura, filosofia, género, raça, etc.). O fascínio do artista por este ser extraordinário é evidente ao aprofundar as suas características únicas. Esta pesquisa ultrapassa uma visão antropocêntrica, que muitas vezes julga a inteligência com base na sua semelhança com o sistema nervoso e a inteligência dos humanos.
A materialidade das pinturas sobre tecido de Canoilas permite processos de procura e de encontro, usando uma técnica que atravessa o espetro entre a representação e a abstração. Neste procedimento próximo da abstração, o artista beneficia da interação química de diferentes cores e da ligação simbiótica entre a tinta e o tecido, sob as condições naturais de pressão, ar e água. As formas abstratas criadas nos tecidos possuem uma qualidade mimética em relação à natureza tornando-as passiveis de receber as projeções do artista, nas quais se desdobram e entrelaçam traços de polvos.
Esta especificidade técnica aproxima esta série de obras presente em "Leal, tentáculo a tentáculo" às pinturas de aves e de caligrafia asiática. A determinação da pintura em tecido, implícita na passagem da imagem ao gesto, mostra, à semelhança dos frescos etruscos, a possibilidade de escrutinar cada decisão tomada entre o desenho, a marcação da parede com um ferro pontiagudo e a pintura final. A pintura estabelece-se assim neste diálogo permanente de reajustamento entre interior e exterior (sujeito e objeto), à semelhança da transformação da nossa perceção com a microbiologia - ao olhar atentamente para a tela, viajamos entre múltiplos acontecimentos, tornando-nos espectadores activos.
Canoilas tem vindo a desenvolver o seu trabalho utilizando o fundo do mar como um espaço mental de enorme liberdade criativa e especulativa. O artista interessa-se, sobretudo, por novos lugares e formas de existência que nos permitam ultrapassar crenças, lugares comuns e preconceitos e potenciar novas correlações entre o ser humano e outras formas de vida.