CENTENÁRIO DO NASCIMENTO
1923 - 2023
Inauguração 16 Setembro, 16h
Exposição comemorativa do centenário de Fernando Lanhas
O meu pai nasceu a 16 de Setembro de 1923 e faleceu em 2012 com 88 anos. Nada é eterno, é sabido. Há dias passou-me pelas mãos uma fotografia da prova automobilista de LeMans de 1923, ano do seu nascimento. Era uma imagem de uma zona florestal da prova, em tons sépia, deslavada, de grão grosseiro e pouco nítida. Acontece medirmos o tempo pela qualidade de uma fotografia. Sensibilizou-me a imagem ser do ano do nascimento do meu pai - mas aquela ideia de “muito tempo” não foi consequente afinal da data de nascimento, mas da qualidade da imagem. A ideia nostálgica que permanece para quem é posterior à captação da imagem, é que aquela época era cinza ou a sépia, tal a quantidade de imagens que o “comprovam”.
Façamos uma foto atual da floresta apenas. Se quisermos, a imagem também é agora de 1923. Ou de 1763, ou de 1278, ou de 234 AC…A luz afinal é eterna, assim como o tempo. Ainda hoje permanecem no local ciclicamente aquela luz e cores. A foto de agora não é de 1923 mas a luz e cores não se degradaram desde 1923. O registo é que não era bom.
Fernando Lanhas “o pintor” que nunca se viu a si como tal, procurou cores para os seus quadros que não se alterassem com o tempo, as cores do pó que é o fim de tudo, as cores da pedra que permanece até ser areia, e depois seguir no ar como poeira. Ele queria além disso que a sua pintura fosse tão natural como uma árvore a ponto de poder passar por ela sem olhar. Isto tem algo a ver com pintura mas pouco… e não tem que ter porque não é só uma exposição de pintura, é mais que isso uma forma de assinalar o centenário do nascimento de alguém que me ajudou a pensar, alguém que me encaminhou para olhar de forma particular muitas questões mundanas. O meu pai.
O material exposto é o que se pode mostrar em pouco espaço, dos interesses e perguntas de alguém que sempre perguntou o mundo, e o tempo… alguém que se ocupou de muito do que tem a ver com luz: pintura, desenho, estética e arquitetura. Alguém que quis saber como são as areias em vários locais do mundo, afinal muito semelhantes umas às outras, assim como a luz de 1923 era igual à de hoje.
Setembro de 2023
Pedro Lanhas