2020.10.17—2020.12.04
Lanhaslândia
Fernando Lanhas
Miguel von Hafe Pérez (curadoria)

Lanhaslândia
   

Há artistas que demarcam um território criativo tão singular que dificilmente se deixam posicionar no fluxo contínuo da história da arte.
Fernando Lanhas (Porto, 1923 – 2012) será sempre mencionado como percursor do abstracionismo em Portugal, mas é provável que tal etiqueta acabe por ser contraproducente na informada receção da magnitude projetual dos seus desígnios artísticos.
A dimensão sísmica de réplicas continuadas é aquilo que melhor define o território Lanhas: uma obra que não se vincula exclusivamente a um tempo determinado, antes uma cartografia difusa, avassaladora e atuante do exercício constante da curiosidade estética e científica.
A sua obra é presente contínuo, é exemplo erigido a partir de uma idiossincrática abertura ao desconhecido. Arquitetura, cosmologia, astronomia, arqueologia, museologia, poesia e arte não são mais do que saberes-constelações em mutante interconexão que um cérebro e um corpo, em determinada altura, souberam interpretar como fonte de infinitas interrogações, tanto na claridade racional, como na especulação quase xamânica.
O Lanhas que toca, mede, mapeia e divulga. O Lanhas que levita na ação poética, no escrutínio plástico, na densidade quase minimal da palavra precisa, da pintura elementar, rigorosa e modernamente universal.
Lanhaslândia: um país sem fronteiras, que tal como o seu fundador tem a capacidade de em sonho levitar com a gravidade profunda de um saber-outro que nos desarma e deixa em contínuo sobressalto.
Esta exposição não é mais do que um apontamento indexical dessa desterritorialização da expectável convencionalidade do fazer artístico.
   

Entre os seus magníficos estilhaços contam-se:
- anedotas publicadas no Primeiro de Janeiro entre 1946 e 1950, cuidadosamente recortadas e guardadas pelo seu autor (na altura assinando com o pseudónimo Clemente)
- quatro fotografias ampliadas de um conjunto de centenas de slides que documentam viagens de estudo e momentos de descoberta num território que aquele olhar interpretava como ninguém
- desenhos inéditos, aqui mostrados pela primeira vez
- uma pintura raramente vista
- fotocópias de três sonhos
- seixos pintados, numa intervenção sem paralelo no contexto da aproximação da arte à natureza pela sua desarmante simplicidade e eficácia estética
- mapas (de grandezas e naturezas distintas)
- planos de arquitetura de exposição
- um desconcertante projeto de um dispositivo fotográfico aéreo
- apresentações de projetos de arquitetura
- dois fósseis (graptólitos) descobertos em 1943 que evidenciam sinais verdadeiramente premonitórios e ecoantes de uma natureza abstrata da pintura por vir
   

Lanhaslândia é, assim, a incompletude assumida de uma pergunta sempre repetida por Fernando Lanhas: “o que é isto tudo?”.
   

Miguel von Hafe Pérez

Lanhaslândia (vista de exposição). Quadrado Azul, Porto, , 2020 
Lanhaslândia (vista de exposição). Quadrado Azul, Porto, , 2020 
Lanhaslândia (vista de exposição). Quadrado Azul, Porto, , 2020 
Lanhaslândia (vista de exposição). Quadrado Azul, Porto, , 2020 
Lanhaslândia (vista de exposição). Quadrado Azul, Porto, , 2020 
Lanhaslândia (vista de exposição). Quadrado Azul, Porto, , 2020 
Lanhaslândia (vista de exposição). Quadrado Azul, Porto, , 2020 
Lanhaslândia (vista de exposição). Quadrado Azul, Porto, , 2020 
Lanhaslândia (vista de exposição). Quadrado Azul, Porto, , 2020 
Lanhaslândia (vista de exposição). Quadrado Azul, Porto, , 2020 
Lanhaslândia (vista de exposição). Quadrado Azul, Porto, , 2020 
Pedras pintadas, 1970-1985 
Lanhaslândia (vista de exposição). Quadrado Azul, Porto, , 2020 
Sem título, Década de 50. Fotografia e colagem. 43 x 59,5 cm (x3)