Na sua segunda exposição
individual na Galeria Quadrado Azul, Rigo 23 apresenta um núcleo de obras
realizadas no longínquo ano de 2017. As quatro obras foram apresentadas pela
primeira vez no Weltkulturen Museum, em Frankfurt, e na Galeria Millennium,
numa Lisboa então Capital Ibero-Americana da Cultura.
Uma
mostra a dois com Ayrson Heráclico (Brasil), a exposição em Frankfurt
intitulava-se Entre Terra e Mar - Between
Land and Sea - Transatlantic Art. Na baixa pombalina, intitulava-se Itacoatiara [1],
e na Galeria Quadrado Azul, em 2020 - entre o Hospital Júlio de Matos e a
Escola Padre António Vieira - apresenta
o título de Globotomia.
O
trabalho de Rigo é um constante desafio à ideia da obra de arte como elemento
impermeável ao contexto que a rodeia. A Arte
como fenómeno separado, facilmente catalogado, colectado, avaliado, apresentado
e preservado entre muros e páginas, não é a sua praia. Ao longo de mais de três
décadas, a sua desalinhada produção artística raramente ocupa um mesmo
território, reflexo de uma busca desordenada que tem como ponto de origem a
vertigem do abismo. Natural da Ilha da Madeira, o artista passou a maior parte
da sua vida no distópico e fascinante faroeste, em diálogo com a experiência indígena
e negra. Nesta exposição, apresenta-nos trabalhos produzidos em estreita
colaboração com comunidades e indivíduos de um faroeste menos viajado pela
curiosidade europeia - o faroeste do hemisfério Sul, com o qual Portugal tanto
tem que ver e a haver.
A
exposição inclui quatro obras: um video que documenta uma acção levada a cabo
por membros de três aldeias Guaranis do sul do estado de São Paulo, no Brasil, na praia da Ilha do Cardoso,
que hoje tem o nome de Itacuruça[2];
uma escultura em pedra, que junta pedra esculpida e pedra no seu estado
natural, numa representação do território sagrado, dividido por uma fronteira;
uma escultura-invólucro em cestaria, com tacoara, madeira e materiais
encontrados nas praias da Ilha do Cardoso, a caminho de Itacuruça; um desenho-mapa
com tinta da china e bordado, que traça o evoluir de um grito Guarani pelo
território europeu, no ano de 2017.
[1]Pedra Colorida em Guarani, designação primeira dada pelos Guarani ao marco de pedra pintada que uma expedição Portuguesa colocou em 1502 no seu território definindo um ponto na fronteira criada pelo Tratado de Tordesilhas, em 1494.
[2] “Cruz de Pedra” em Guarani. Hoje nomeia a praia onde foi colocado o marco assinalando um ponto na fronteira criada pelo Tratado de Tordesilhas, em 1502.