Rubene Palma Ramos e Jorge das Neves
com CRAMOL
Inauguração e performance pelo grupo coral CRAMOL:
31 Maio, 21h30
Depois da construção da
gruta, Rubene Palma Ramos propõe a projeção de Maciste all'inferno (1925) de G. Brignone. A discussão desenvolveu-se em torno da forma como,
no filme, as mulheres-ninfas são apresentadas,
numa abordagem distante da que a gruta ambiciona transmitir, e que, no
seu arco entre um passado distante e o momento presente, pretende estabelecer
uma equidade emancipatória.
Uma das figuras em imanência no projeto é Segundo
de Chomón (1871 –1929), realizador mítico dos primórdios do cinema. O
título Les Corps Enchantés é um
desvio que se apropria do título Les
Verres Enchantés (1907) do realizador espanhol; "verres", (em
francês, "copos") metamorfoseia-se na palavra corpos. O projeto de
Rubene Palma Ramos e Jorge das Neves é uma homenagem ao cinema de Chomón. Tal
como nas primeiras pinturas rupestres, que surgem num contexto em que forças
mágicas, religiosas e artísticas eram inseparáveis, também no surgimento das
primeiras imagens em movimento, no final do século XIX, arte e magia eram inextrincáveis.
A gruta estabelece uma ligação com o universo
mágico dos primórdios do cinema, permitindo aos seus autores uma panaceia
artística, feita de apropriações de gestos, quebras e manuseamento de imagens,
tudo sublimado por um conjunto específico de canções interpretadas a capella dentro da gruta, pelo grupo
coral CRAMOL, que faz também a banda sonora do filme. As vozes e o espaço entre
vozes deste grupo coral entra-nos no corpo como coisa etérea e ajuda-nos a
preencher os espaços entre ações e imagens do filme. O grupo e o seu canto
convocam um imaginário ritualista, distante do universo artificial presente nos
filmes de Chómon, esse encontro improvável cria uma estranheza que é fértil
para pensar alguns dos temas em causa no projecto d' A Gruta.
O filme Makron
et Les Corps Enchantés mostra um gigante, Makron, que evoca a ideia de um
super-humano como Hércules ou Maciste, sobrepondo-a, com ironia, à ideia do
super-humano como artista. Makron é um gigante em suspensão, numa ascese
estética em relação ao mundo e aos seus elementos, e que nos coloca fora do
tempo.
O som das vozes vem do interior da gruta, que passa
a funcionar como um búzio ou concha, capaz de editar as vozes do coro, que se
projectam para o exterior, onde se encontra o filme. Objecto Encantado é uma escultura em ferro inspirada na ambiência
metálica dos cenários e figurinos de Maciste
all'inferno, sobretudo nas cenas que se desenrolam no inferno, espaço
subterrâneo cujo acesso é feito através de uma gruta. Em paralelo, vidros com
imagens fotográficas intervencionadas evocam a origem da imagem em movimento,
numa análise visual de corpos em diversas posições no espaço-tempo.
Rubene Palma Ramos, Portimão, 1977. Vive e trabalha
em Lisboa
Jorge das Neves, Ilha de Moçambique, 1973. Vive
e trabalha em Coimbra.
O Cramol é um grupo de mulheres que desenvolve a
sua actividade no âmbito de uma associação cultural, a Biblioteca Operária
Oeirense. Formado em 1979, o grupo dedica-se ao canto tradicional de mulheres
para dar voz às sonoridades ancestrais do seu canto, um dos mais ricos
patrimónios da música rural “a capella”. Conta, na sua carreira, com centenas
de concertos em todo o país e no estrangeiro, em peças de teatro, de dança, tem
participado em edições discográficas e partilhado palcos com outros músicos e
outras músicas. O Cramol é colaborador do IELT – Instituto de Literatura e
Tradição da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de
Lisboa.