Inauguração: 22 setembro - 16h
A Galeria Quadrado Azul tem o prazer de apresentar “Antes desse ouro”, a segunda exposição de Ernesto de Sousa na galeria e a primeira no Porto.
A mostra é composta por um conjunto de graffitis - obras feitas com diversos materiais sobre papel, desenvolvidos entre 1983 e 1987 por Ernesto de Sousa (ES). Aquele que é um dos últimos blocos de obras de ES, foi desenvolvido após a sua visita a Nova Iorque em 1983, onde ES foi fazer uma performance no Experimental Intermedia Foundation, dirigida pelo Phill Niblock que anos depois foi o parceiro da Bolsa Ernesto de Sousa. Para além dos prédios grafitados, Ernesto de Sousa e Isabel Alves visitaram a galeria FUN, vendo a primeira exposição de Keith Haring. Ernesto de Sousa fotografou o prédio à frente ao local onde fez a sua performance, o frigorífico da galeria FUN e informou o seu corpo da efervescência da imagética que tomava as ruas de Nova Iorque e a sua cena artística, sobretudo através da obra de Basquiat Haring.
Após o seu regresso a Lisboa, ES começa a pintar sobre convites, envelopes de carta e outros papéis da mesma dimensão tendo sido utilizadas parte destas obras como mail art tendo um destinatário único e preciso.
O conjunto de obras que a exposição apresenta é formado por uma grande parte das peças apresentadas nas exposições na Cooperativa Diferença, Lisboa, em Fevereiro-Março de 1986 e outra no Círculo de Artes Plásticas, Coimbra, em Junho de 1986, conjuntamente com um núcleo nunca antes apresentado publicamente, e que foram montadas seguindo as mesmas decisões de enquadramento e emolduramento das primeiras.
Como obras, os graffitis são compostos por repetições de caráter caligráfico ou tipográfico com uma forte carga de côr que evidenciam uma vitalidade proveniente de uma nova sensibilidade. Os títulos de algumas destas obras (Indra, Tãrã, Krishna, Parvati ou Tch’ang) reforçam essa procura do Outro, numa abertura a novos códigos e sistemas de valor que marca de forma indelével a obra de ES.
A repetição de gestos rápidos de caráter caligráfico ou formal autonomiza-se como nova forma e, no meu entender, como pintura incorporando e organizando esta nova sensibilidade do corpo. Nesta procura de uma alteridade, é-nos possível compreender a qualidade erótica (dionisíaca) na produção do autor. As palavras mais desenhadas e os gestos que ficavam entre a caligrafia e o signo, evoluem ao longo de quatro anos para motivos que vão do plano abstracto e autónomo da imagem que se autonomiza da palavra, a reminiscências de caráter antropomórfico (provavelmente reminiscentes das provas de contato da série “O teu corpo é o meu corpo” de 1966 -78, onde detalhes de corpos são enquadrados e autonomizados), motivos vegetais (folhas e ramos) e mantras visuais, que foram recorrentes na obra do autor.
A apresentação de "Antes desse ouro" reforça a qualidade artística de ES e eleva a sua qualidade heteróclita como “operador estético”, na forma como a sua obra se desenvolveu entre os campos do cinema, da fotografia, new media, pintura, curadoria, crítica, pedagogia e história de arte. Ao mesmo tempo, sublinham a concomitância do plano artístico com os planos social e político que a obra deste autor sempre evidenciou, sendo possível projetar nestas obras, um conjunto de afinidades vastas como as obras de Henry Michaux, Jean Michel Basquiat e Jonathan Lasker, assim como os movimentos da Mail Art, Fluxus, Lettrism e Noveau Realism.
Hugo Canoilas