Dânae foi uma princesa da mitologia grega, filha de Acrísio, rei de Argos, e de Eurídice. Quando o oráculo confronta Acrísio com a profecia de que este, ainda que se escondesse nos confins da Terra, morreria pelas mãos do seu próprio neto, filho de Dânae, este decide enclausurá-la numa caverna subterrânea cujas paredes se ergueram em bronze, sob atenta e constante vigia dos guardas do rei.
Apaixonado pela jovem princesa, Zeus transmuta-se numa chuva de ouro que, ao penetrar na caverna através de um orifício no tecto, se derrama sobre o colo de Dânae, fecundando-a. Da união nasce Perseu. Ao tomar conhecimento do nascimento, Acrísio, temendo a profecia, ordena que mãe e filho sejam fechados num baú de madeira e lançados ao mar. A água matá-los-ia.
Zeus intervém junto de Poseidon, deus dos mares, e pede-lhe que acalme as suas águas. Dânae e Perseu sobrevivem ao golpe de Acrísio e as correntes levam-nos até à ilha de Sérifos, onde são acolhidos por Dites. Anos mais tarde, depois de derrotar a temível Medusa, cujo olhar petrificaria todos os que ousassem confrontá-lo, Perseu atinge mortalmente o seu avô Acrísio com um dardo, nos jogos comemorativos em Lárissa, cumprindo assim a profecia do oráculo.
Na mitologia, o destino ganha uma tonalidade geométrica, desenha circunferências de largos diâmetros para sempre fechar o que traçou. Dar a vida e infligir o golpe mortal são, por vezes, um mesmo gesto, como o nascimento de Perseu é já também a morte de Acrísio. A água é o elemento em que o fim e o início não mais se distinguem, tudo devém parte de uma mesma massa pesada e penetrante que tudo excede, obstinada como a paixão de um deus.
Na queda que a aproxima da terra ou na ascensão que a devolve ao céu, a água é sempre e já, numa incansável verticalidade, tudo o que faz nascer. É a exortação à fertilidade em que o homem pede aos deuses para serem parte do ciclo. É a terra a pedir para criar sempre mais, numa fuga ao fim de tudo o que viu nascer, concavidade que a contém e abertura que lhe cede caminho.