Guglielmo Marconi, na sua velhice, acreditava que os sons do mundo nunca desapareceriam e que continuariam eternamente, em ondas sonoras progressivamente mais silenciosas. O ouvido humano não estaria apto para detectar estas frequências que se perderiam no tempo, mas nunca no espaço.
"Longe, mais longe,..." A linha horizontal cruza a linha vertical, tocam-se aqui para se distanciarem sempre mais. Assim compreendemos que os olhos nunca poderão ser moldura para a paisagem, ela vai além dos pontos cardeais e repete "longe, mais longe,…" O homem é apenas o eixo, a bússola que tem nas mãos. A antena procura o outro que, junto da sua antena, procura o outro. A paisagem comunica-se a outra paisagem, conta-nos as suas sinuosidades e os sulcos que a revolvem. Inicia-se o ritual que cura a ferida da distância. A antena acciona o movimento a partir da sua aparente imobilidade: desenha os 360º que a rodeiam e segue num movimento de ascensão. Mas esse movimento discónico a dois compassos não esquece a raiz que o mantém preso ao solo, e é a partir dessa raiz que lhe vem a ânsia da transmissão, sempre interrompida, imperfeita porque humana. A voz que se ouve do outro lado tem o nome da contingência e por vezes torna-se agreste, fere como a própria paisagem.
Ao vislumbrar o abrigo encontra-se o código da paisagem. Cada elemento é um ruído que se repete, porque também a paisagem é uma orquestra de repetições, como a semente se junta à semente para juntas melhor devorarem a terra. O ruído acontece na afirmação do acontecimento: acontecimento-árvore, acontecimento-pedra, acontecimento-terra. A melodia é atonal e o seu ritmo não nos pertence. O som desenha a paisagem. A paisagem desenha o som. A paisagem-ruído escuta-se com os pés que, sobre a terra, desenham novas linhas e seguem até onde a paisagem diz "eu não termino".