No dia 3 de Maio, pelas 16 horas inaugura na Galeria Quadrado Azul no Porto, a mais recente exposição individual de José de Guimarães: Tatuagens - Obras recentes.
José de Guimarães | Tatuagens
Nuno Faria
A tatuagem é uma prática simbólica ambígua: é distintiva, em alguns casos, e segregadora, noutros. José de Guimarães tem integrado este elemento amiúde no seu trabalho enquanto símbolo de pertença comunitária e traço de resistência cultural, em particular nos últimos anos com a extensa série de monotipias, "Negreiros", que agora se vê expandida e reforçada num intenso diálogo de negro sobre negro, de positivo/ negativo e de cópia/ original.
Agora, partindo e intervindo sobre um célebre artigo de jornal do historiador José Pacheco Pereira, o artista comenta a actualidade trazendo, de forma mais explícita, a tatuagem para o plano político. Note-se que os níveis semânticos são sub-cutâneos, indo mais em profundidade do que a temática, visualmente impactante, deixaria antever. Para além do comentário político, em primeiro plano, José de Guimarães labora ao nível da formação e reprodução da imagem, usando o meio extensivamente, além da própria visualidade, num plano meta-linguístico que se detém nas potencialidades da transferência da imagem realizada por contacto.
Contacto, um conceito operativo na obra de José de Guimarães - como foi possível testemunhar na exposição antológica dedicada aos processos de transferência da imagem no seu trabalho, patente de Janeiro a Abril no CIAJG, em Guimarães -, estabelece o mote desta exposição. Nela, José de Guimarães reforça uma prática intensamente baseada na apropriação de elementos de outras culturas, com as quais mantemos contactos multi-seculares, prosseguindo um trabalho esteticamente poroso, mestiço e antropofágico.
Neste retorno às exposições individuais no contexto galerístico em Portugal, após um longo período de ausência, José de Guimarães traz-nos uma exposição interventiva e questionadora, atenta ao contexto socio-político, que talvez surpreenda aqueles que nunca se detiveram nesse pulsar inquietante, palpável à superfície dos seus objectos.