A primeira exposição individual de Candice Lin em Portugal é composta por uma instalação de novos trabalhos em escultura e fotografia que exploram a ideia de simbiose e co-evolução como um método de reposicionar o poder e uma forma alternativa de olhar para as noções de liberdade, individualidade e desejo.
The long-lasting intimacy of strangers retira o título de uma citação do cientista Lynn Margulis, o qual avançou a ideia controversa, mas agora aceite, de que a evolução ocorre não pela “sobrevivência do mais apto” mas através de relações simbióticas co-evolutivas. Candice Lin leva esta noção ainda mais longe ao investigar como o desejo por um visto como Outro age como uma força co-evolucionária para ambas as partes. À artista interessa olhar para as relações simbióticas co-evolucionárias como metáfora das formas nas quais violência e dependência estão interligadas, a nível social, global e celular, interagindo nas ideologias ocidentais de individualismo e liberdade, e mais especificamente na ideologia americana.
Ao entrar na galeria, há um confronto com o corpo de um insecto à escala humana, deitado de costas numa cama por fazer, uma figura que faz referência quer ao conto Metamorfose de Franz Kafka, quer ao menos conhecido insecto Coridromius da Austrália. Após um exame mais atento, pode ser visto que, entre as regiões abdominais, existem pequenos e carnudos orifícios vaginais com faces barrocas, reverberando o buraco na parede à esquerda. Esta está coberta com o que parece ser um papel com motivos florais. Após um exame mais atento, os desenhos no papel revelam-se imagens microscópicas ampliadas de células e bactérias apresentadas como gavinhas e brotos delicados e elaborados. Tratam-se de imagens com origem nas figuras principais que representam o conceito de simbiogênese de Margulis.
Em torno da escultura do insecto surgem várias fotografias provenientes do Black Book de Robert Mapplethorpe, que foram pintadas digitalmente com um azul brilhante hiper-real e com olhos de gato. A natureza avatar do desejo revela-se. As imagens foram agrupadas e organizadas nos diferentes espaços da galeria – animal, vegetal, pedras, e o olhar humano emotivo – ecoando o que o escritor Mel Y. Chen descreve, em Animacies, como a hierarquia de animacidade. Esta estabelece distinções entre animado e inanimado, animal e humano, capacitados e incapacitados, e está presente na reformulação das imagens icónicas de Mapplethorpe.
Duas pequenas esculturas dão expressão a insultos da hierarquia de animacidade e recordando o pecado original.
Candice Lin nasceu em Concord, Estados Unidos, em 1979. Vive e trabalha em Los Angeles. A expor desde 2001, Candice Lin trabalha com uma multiplicidade de meios, como o desenho, o vídeo, a escultura, a performance e a instalação. A prática da artista é um questionamento permanente sobre problemáticas raciais e de género, e sobre a forma como as estruturas de poder, sobretudo o colonialismo e o imperialismo, estão implicadas na construção de identidades. A percorrer os seus trabalhos está sempre a ideia de que a construção da identidade com base na diferença, seja ela nacional, racial, religiosa ou de género, é um tipo de magia cultural que nega a subjectividade.
As exposições mais recentes incluem as individuais na François Ghebaly Gallery, Los Angeles, Estados Unidos (2012); e na Hudson D. Walker Gallery, Provincetown, Estados Unidos (2012); e as colectivas New Stories from the Edge of Asia: This/That, San Jose Museum of Art, San Jose, Estados Unidos (2013); MexiCali Biennial 2013, Vincent Price Art Museum, Monterey Park, Estados Unidos (2013); formas e forças, Galeria Quadrado Azul, Porto, Portugal (2012).