A nova exposição de Thierry Simões é composta por desenhos produzidos entre 1990 e 2012.
O título alude ao desenho da própria letra, a uma sobreposição de dois vértices, de dois desenhos no mesmo plano, de duas camadas de tempo no mesmo espaço. O artista dá a ver um conjunto de trabalhos realizados em diversos momentos e agora ligados por uma espécie de teia. Surgem suspensos, mostrando-se acessíveis a serem observados e continuados, e disponíveis às oscilações da luz do dia. Nestes desenhos, coexistem várias camadas, manchas, rasgos, cortes, transparências e opacidades. Neles é possível ver a diversidade de materiais (papel, tecido, madeira), técnicas (lápis, tinta da china, pastel, guache, aguarela, encáustica, grafite, cera) e de práticas (traçar, cortar, recortar, sobrepor, lixar, vaporizar, mergulhar) que convivem no processo artístico de Thierry Simões.
A exposição agora apresentada revela o fundamento da prática do artista: o desenho é visto como algo que está a acontecer e ao qual se pode dar continuidade, algo que não tem um princípio e um término claros. O desenho é assim um gesto que tanto pode ser traçar uma folha, como rasgar o papel, tirar notas, ligar uma câmara, ou nada fazer-se. E é um processo de esquecimento e de lembrança, de fazer e de desfazer na medida do possível, de voltar a uma folha já preenchida anteriormente, de repetir novamente algo já feito noutro contexto, de sobrepor mais uma camada.