Ernesto de Sousa tem sido, pelo menos nos últimos 20 anos, um dos nomes mais influentes para todos quanto pensam, fazem e escrevem sobre arte em Portugal, desde curadores, críticos e historiadores de arte a novas gerações de artistas. Fotógrafo, cineasta, escritor, teórico, ensaísta, crítico de arte e de cinema, curador, estudioso da arte popular, pioneiro na organização de happenings e de projectos multi-media, a todos estas actividades se dedicou simultaneamente com empenho, seriedade, rigor e um premeditado e desassombrado amadorismo.
A forma como relacionou todas as expressões artísticas e abalou alicerces disciplinares, como confundiu cronologias e geografias (arte popular e arte erudita – as neovanguardas, em particular –, velhas e novíssimas tecnologias, periferia e centro) tornou a sua prática um singular exemplo e um inesgotável caso de estudo. O facto de privilegiar a colaboração, se ter dedicado a actividades tão diversas, sempre ter resistido a ser definido disciplinarmente e ter reivindicado abertamente influências, torna-o ainda um caso sério para uma reflexão sobre o próprio conceito de autoria.
Apesar da diversidade de abordagens às artes e da grande variedade de meios artísticos por si explorados, podemos afirmar que a fotografia desempenhou no seu percurso um papel fundamental: descoberta muito cedo, base dos seus posteriores envolvimentos com o cinema e o vídeo, ela também lhe serviu para estudar a cultura popular, abordar de forma original a escultura, estruturar os mixed-media dos anos 1960-70 ou, como esta exposição bem exemplifica, para criar com os outros e com as coisas um espaço de proximidade, de intimidade, um aqui e agora que nos ajude a compreender que Nós Não Estamos Algures (nome de um seu mixed-media de 1969).