2016.05.07—2016.06.11
Neguentropia
Amaral

Para o artista, a pintura é um meio de estabelecer uma ordem num sistema desordenado.
A neguentropia é o revelador da entropia desde o primeiro momento, em que a desordem é observada e interpretada, para assim se descobrir uma ordenação num sistema.
É nesta oposição real dialéctica entre a entropia, que por definição é desordem, e a neguentropia, que o artista encontra uma nova ordem.
O artista procura uma interpretação subjectiva e psicológica desse paradoxo da natureza e da existência humana, apresentando vários cenários do Homem no espaço e no tempo, reflector de um sentido interpretativo para quem os observa.
As suas pinturas despertam esse paradoxo, onde entropia e neguentropia habitam o mesmo espaço e tempo. Um instantâneo da sua existência e espelho da sua vida e morte.
    

Não quero a complacência da desordem.
E se sou líquida como é líquido o informe,
Antes sou gotas de mercúrio do termómetro
quebrado – líquido metal que se
faz círculo cheio de si e igual a si
mesmo no centro e na superfície,
prata que tomba e não derrama,
liquidez sem humidade.


Clarice Lispector    
   

O trabalho de Carlos Amaral é na sua essência uma revelação física da cor da memória e do modo como as imagens se apresentam em nós comprimidas, gravadas e resumidas.
O seu processo de construção parte geralmente de uma matéria escura que preenche a tela na sua totalidade e na qual, através da subtracção de matéria, o artista vai procurando a luz escondida. Esta longa exposição à subtracção da tinta e os vários confrontos entre a matéria escura e o branco da tela produzem a revelação da imagem.
As várias tonalidades ou gradações cromáticas de cinzentos ou azuis-cobalto são uma das características da obra de Carlos Amaral. Os seus trabalhos transportam-nos para estados de alma sombrios, ao representar pessoas em situações limite, despertando em nós um olhar voyeurista, distante e isolado, que nos transporta para cenários onde o tempo é contínuo.
Nas suas temáticas, percorre os vários campos do conhecimento, explorando temas filosóficos, históricos, político-sociais, entre outros. Uma relação mais íntima com o meio, a casa e os objectos que o rodeiam é também parte integrante do seu trabalho. Nas suas pinturas, são representados cenários de isolamento e de forte densidade psicológica.
As obras levam-nos a experienciar paisagens ou expressões enigmáticas que correspondem a representações dramáticas da sociedade em que nos inserimos e onde a intensidade desses sentimentos estéticos é visível ou interpretável.
O artista enquanto criador plasma as ideias nas representações que congemina, através do pensamento e da imaginação, relacionando-as com a sua vida individual ou colectiva, experienciada em contextos pragmáticos e semânticos.