2016.03.31—2016.05.14
Álvaro Lapa

Com um glossário simbólico único, pautado pela constante hibridez entre o pictórico e a palavra, Álvaro Lapa será sempre o artista da forma falada e da palavra informe, da insurreição contra o virtuosismo e a herança estética. Dez anos depois da sua morte, continuamos a desocultar os enigmas que o artista e poeta nos deixou para, sem mapa ou pudor, regressarmos à mesma paisagem interior desmesurada.
    

Álvaro Lapa (Évora, 1939 - Porto, 2006) distinguiu-se na pintura e na poesia portuguesas contemporâneas. Em 1956 fixa-se em Lisboa onde estuda Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, o que terá marcado profundamente o seu trabalho. A sua primeira exposição individual realiza-se em 1964 na Galeria 111, em Lisboa. O seu percurso está marcado pelo cruzamento entre pintura e escrita e pelas afinidades com a pintura abstracto-expressionista europeia e norte-americana, sobretudo Robert Motherwell, e com o surrealismo europeu, manifestas na desconstrução formal e na autonomia estética. A sua obra é pautada pelo recurso a referências autobiográficas e literárias que deram origem à série "Cadernos", obra que remete para um conjunto de autores como Rimbaud, Kafka, Joyce, Sade e Burroughs. A pintura de Lapa situa-se historicamente numa avaliação subversiva dos cânones da pintura. A sua obra literária integra estudos de teoria da arte e poesia de pendor surrealista. O seu reconhecimento tornou-se patente com a atribuição do Grande Prémio EDP em 2006 e nas exposições retrospectivas realizadas na Fundação de Serralves e na Fundação Calouste Gulbenkian.

Álvaro Lapa, A voz das pedras, 1975. Tinta de água s/ papel. 43 x 61 cm